Cidades & Região / Nova Andradina
Nova Andradina expande, comércio migra e gera riqueza nas periferias
Famílias que investiram na periferia no passado, hoje lucram com venda de seus produtos
Glaucia Piovesan
Com a expansão dos bairros em Nova Andradina para áreas mais afastadas do centro da cidade, cada vez mais pessoas estão apostando na abertura do seu próprio negócio no bairro onde mora para melhorar a qualidade de vida da sua família.
Assim, está ficando comum caminhar pelas ruas do seu bairro, cumprimentar os vizinhos e comprar tudo aquilo que precisa em estabelecimentos que estão ao seu redor. As opções vão desde lojas de confecções, cabeleireiros, lojas de conveniência, padarias, supermercados, entre e outros estabelecimentos.
O Jornal da Nova conversou com três empresários que resolveram empreender no local onde residem e hoje estão convencidos de que não é preciso ter um estabelecimento comercial na avenida mais movimentada da cidade para viver bem. Pelo contrário, se tornar um empresário na periferia tem suas vantagens e pode garantir mais renda e um bom futuro para a família.
Para especialistas em mercado, a principal vantagem competitiva dos comércios de bairros é a proximidade e a atendimento diferenciado. O cliente desse tipo de negócio não busca apenas menor preço, mas a conveniência e a comodidade. Você pode fazer as compras a pé, economiza no combustível e evita o estresse ao buscar uma vaga para o carro. Ainda é uma ótima maneira de interagir com a vizinhança e contribui para fortalecer a economia local.
Os proprietários, muitas vezes, têm informações sobre os hábitos de compras de um cliente com facilidade e normalmente mantém uma relação de confiança. Outra vantagem do imóvel comercial nos bairros é o valor do aluguel ou, em alguns casos, a não necessidade de arcar com este custo adicional. Nas áreas centrais, o valor do aluguel dos imóveis costumam ser maiores do que nas regiões periféricas.
Moradores do bairro Guiomar Soares Andrade há 21 anos, Sérgio Lourenço e Euci Caos Lourenço são proprietários da Padaria Bom Gosto. O ex-pedreiro e a ex-vendedora começaram no ramo de padaria há 17 anos, quando Euci perdeu o emprego, fez uma área coberta em frente a sua residência e passou a vender pão para os vizinhos. “Meu cunhado já tinha padaria há mais tempo, pegava os pães e vendia neste espaço que construímos. Em um ano, percebemos que precisava de um lugar mais amplo. Nesta época, trabalhávamos só eu e o meu menino mais velho, mas vimos que estava crescendo e o Sérgio largou o trabalho de pedreiro e também veio somar com a gente”, conta Euci.
Com a necessidade de ampliar o negócio, o casal conseguiu um financiamento bancário, adquiriram equipamentos e entraram de vez no mercado. Ao longo dos anos, a padaria recebeu outras melhorias e duas reformas. Hoje, além dos proprietários, trabalham mais dois funcionários. “O sustento da nossa família veio daqui mesmo, sem sair do bairro, sem sair de casa. Meus dois filhos são formados, trabalham na área em que concluíram os estudos e não temos do que reclamar. Tenho clientes que estão conosco desde que abrimos”, ressalta, orgulhosa. E emenda: “O diferencial está no atendimento e nos produtos, não tem necessidade de sair do bairro para ir até o centro para comprar uma mercadoria de qualidade. Tem que caprichar e melhorar sempre. Assim, temos feito muitos cursos de capacitação, de atendimento, enfim, estar preocupado em atendem bem. Tem que investir e nunca achar que está bom. Estamos nos espremendo dentro de casa, mas não podemos reclamar”, declara a comerciante.
Michele de Paula Carvalho Pinotti atua no ramo de confecção e moda masculina, feminina e acessórios. Ela é proprietária da loja que leva o seu nome “Michele Modas”, que está localizada no bairro Horto Florestal. De acordo com a empresária, a decisão de investir no seu próprio negócio foi tomada quando engravidou da sua filha, há pouco mais de 7 anos. “Eu sempre trabalhei no comércio, mas até me decidir a trabalhar com roupas tive que percorrer alguns caminhos. Tentei várias coisas, fiz cursos, até descobrir a minha vocação quando fiz a primeira viagem a São Paulo com uma amiga. Fomos e voltamos de caminhão com um conhecido. Peguei todas minhas economias, comprei cerca de R$ 1,5 mil em roupas e trouxe para vender. Não sabia nem como colocar preços nas peças, porque não tinha noção de valor de preço, de qualidade”, descreveu.
As mercadorias ficavam dispostas num varal de cortina na sala da sua residência. De início, Michele conta que levava as roupas até a casa ou no trabalho das clientes com sua moto ou, muitas vezes, com um carro, já que precisava levar a filha ainda pequena com ela. “Eu trocava fraldas no carro, andava pra cima e pra baixo fazendo minha clientela, que eram meus vizinhos, as colegas da faculdade, amigas, enfim, pessoas que eu conhecia ou tinha acesso. No final do dia estava exausta, mais realizada”.
Com o tempo, Michele lembra que construiu uma nova sala, mais espaçosa e pode melhorar a disposição das mercadorias. Por diversas vezes, tentou um financiamento e não conseguia realizar o seu sonho. Mas há pouco mais de dois anos, depois de muita insistência os recursos foram liberados e ela construiu a loja onde está hoje, na frente da sua residência. Para a proprietária, o seu diferencial é bom atendimento, força de vontade, uma boa carteira de clientes e trabalhar com “condicional”. “Trabalho de domingo a domingo. Hoje, meu esposo também trabalha aqui e me auxilia em tudo. Quando as pessoas não vêm até a loja, vou até a casa delas, deixo a mercadoria para provar e procuro facilitar ao máximo para o cliente. Aqui na loja, procurei ter um espaço agradável, aconchegante, prazos e um bom desconto à vista. Tudo que conquistei até hoje foi pelo meu trabalho aqui na loja”, avalia.
O dono do supermercado Bela Vista, situado na Morada do Sol, João Manuel Clemente, desde agosto de 1999 atua no comércio de Nova Andradina. Seo João disse que começou com um “mercadinho” bem pequeno, ao lado da esposa. Há cerca de um ano e meio compraram este supermercado na avenida principal do bairro e ampliaram seu negócio. “Sempre trabalhamos com mercado. Formei minhas duas filhas: uma advogada e outra assistente social. Hoje, uma ainda me ajuda no mercado. Sempre me sustentei dentro do nosso bairro. Muita gente cresceu aqui e eu também. Muitas crianças nasceram e cresceram aqui e sempre me viram por aqui. Conhece a gente, tem confiança e nós também. Sou muito dado com os clientes. O atendimento, o respeito, a limpeza do estabelecimento e a qualidade dos produtos são nossos cartões de visitas”, ressaltou o comerciante, que emprega além da família, mais três pessoas.
Diante dessas histórias e de tantas outras que podem ser contadas é possível verificar que a dinâmica urbana de Nova Andradina tem mostrado uma nova configuração nos últimos anos e fica evidente que os bairros oferecem conforto e comodidade para as pessoas, elas deixam de sair da área onde moram para procurar o centro de uma cidade. É um novo modelo urbano em que a riqueza está dividida entre os bairros e atrelada a felicidade das pessoas, estejam elas onde estiverem.
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