No ônibus errado

*Maria Antônia Neves


Eram mais ou menos umas 18h30. Havia apenas umas seis pessoas, bancos vazios, janelas barulhentas e o motorista com o seu rádio ligado baixinho.

Aos poucos, o ônibus foi lotando e, com a mesma lentidão, esvaziando. Pelo que parecia, meu ponto era o mais longe. Entrou gente de toda altura, peso e cor. Meu ponto parecia não chegar. Entretive-me nos capítulos de um livro já lido várias vezes. Estava completamente distraída. Chovia lá fora e já estava escurecendo a ponto de não conseguir enxergar as letras do livro.

Li até onde deu e parei para observar a chuva do lado de fora. Observava as gotas escorrendo pela janela, enquanto o ônibus parava para pegar sabe Deus quem naquela chuva.

Havia muitos bancos vazios, mas o moço que acabara de subir resolveu sentar-se ao meu lado. Estava todo molhado, os cabelos pingando e, devido aos balanços do ônibus, vez ou outra, respingava no livro em meu colo.

Ele resolveu conversar, puxou assunto, disse sobre si mesmo, de onde vinha e para onde ia – parecia que nos conhecíamos há anos. Ele falava sobre seus planos para o futuro, sobre os acontecimentos do passado, sobre o problema físico que sua irmã mais nova tinha, sobre o cachorro que falecera há pouco tempo.

Eu apenas fazia caras e bocas, respondia “sim”, “nossa!” e “é mesmo?!”. Até que resolvi perguntar o nome completo do rapaz, que, por coincidência ou não, tinha o mesmo sobrenome que o meu. Talvez, se eu tivesse no ônibus certo não encontraria um parente distante.

*Estudante do curso de Agropecuária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul – IFMS – (campus: Nova Andradina). 14 anos, amo ler ouvir música e tomar um “téras” com os “migo”.

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