Um dia para não esquecer (ou sobre a lei de Murphy)

*Mateus Pinheiro Moreira


Como explicar o motivo de não entregar uma tarefa na data prevista?

 

Era uma noite bem chuvosa, eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Nunca dormi acompanhado, porém, naquela noite tive que dividir minha cama com uma bacia d’água: no meu quarto chovia mais do que lá fora. Ao lado da cama onde eu estava, minha tia dormia igual uma pedra, eu confundia seu ronco com os trovões. Lá fora ventava muito, não vou negar que fiquei com medo. Do lado da minha casa tem uma árvore tão antiga quanto ela: minha casa é feita de madeira de cor azul, mas com o tempo, desbotou e acabou ficando verde. E também é a casa mais antiga da rua onde eu moro – mesmo sendo bem velha, ela sempre me protegeu dos temporais.  

 

No dia seguinte, acordo e olho para o relógio: eram seis e meia da manhã! Putz! Tarde demais: já tinha perdido o primeiro busão. Tive que abandonar o café da manhã, correr para o ponto para pegar o segundo ônibus e chegar antes de começar a aula. Depois de tanta correria, consegui chegar a tempo no ponto, não esperei muito e o ônibus encosta. O motorista, meio sonolento, diz que já está lotado e segue viagem. Comecei a pedir carona. Logo uma mulher ruiva, que usava óculos, para com seu fusca rosa e me pergunta para onde irei. Eu falei o nome da escola que estudo e ela disse que, por coincidência, também iria para lá a fim de levar um livro que sua filha havia esquecido. Mandou eu entrar. Quando eu entrei e fechei a porta, ela disse:

 

- Essa porta só fecha se for com rebeldia!  Aqui o negócio é cabuloso!

 

A porta batia muito. Eu tinha a impressão que a porta ia abrir a qualquer momento. Ela ligou o som do carro e, junto com o barulho próprio do fuscão, parecia que eu estava em uma escola de samba. Depois ela fez uma curva tão rápida que o pneu cantou bonito. Por um momento, eu achei que os batimentos do meu coração queriam competir com seu fusca. Cheguei inteirinho na escola – com as pernas bambas, mas cheguei a tempo de assistir à aula.

 

Quando eu entro na sala, eu vejo todo mundo fazendo o trabalho de português antes da professora chegar. Fiquei só observando os outros “ralando”, pois já tinha feito a tarefa no dia anterior. Quando eu abro minha bolsa, percebo que esqueci o maldito trabalho em casa e não dava tempo de fazer outro, uma vez que a professora já estava entrando. Ela chegou falando que ia começar um conteúdo novo – até me animei, pensei que ela havia esquecido, mas meus “colegas” fizeram o favor de lembrá-la. Por fim, resolvi escrever essa crônica para justificar e fazer com que minha professora ficasse sabendo o motivo de ter esquecido a tarefa e não ter entregado na data prevista.

 

*Aluno do curso técnico integrado em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso do Sul (IFMS), campus Nova Andradina.

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