Caderno JN / Cultura
De boia fria a megaempresário de moda para as classes A e B
Morena Rosa, grupo que reúne grifes de moda feminina, masculina e infantil, faturou R$ 250 milhões em 2010
Percebe alguma relação entre um Monza marrom, ano 91, e uma grife de moda feminina? Para a Morena Rosa - marca mais lembrada por oito em cada dez mulheres das classes A e B, de acordo com o instituto de pesquisa Datafolha -, tem tudo a ver. Afinal, a empresa nasceu com o dinheiro da venda do automóvel, em 1993, único bem que Marco Franzato, fundador da empresa, possuía na época. Com os cerca de US$ 8 mil que levantou com a venda, comprou os primeiros tecidos utilizados pela confecção. E em 2010, dezessete anos depois, sua grife registrava um faturamento de R$ 250 milhões.
Esses resultados foram bastante superiores à média de seus concorrentes. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, o mercado de moda movimentou R$ 53 bilhões em 2010, com um crescimento de 6%, em média, comparado a 2009. Já a empresa de Franzato cresceu cerca de 30% no mesmo período, ritmo que pretende manter neste ano, quando espera atingir R$ 300 milhões em vendas.
Parte desse crescimento virá naturalmente, com a crescente expansão das classes A e B, para quem os produtos que fabrica são destinados. Outra parte virá de estratégias de negócios, como o recente lançamento da linha de calçados Morena Rosa, e com as novas lojas conceito, exclusivas para a marca. “Queremos fortalecer nossa marca com essas lojas”, justifica Franzato. Em agosto inaugurará uma unidade em São Paulo, no Shopping Morumbi, que se somará aos endereços em Balneário Camboriú (SC) e Maringá (PR). Até o fim do ano, inaugurará mais três lojas, no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador.
Mas se regressarmos um pouco mais no tempo, veremos que Franzato fez mais do que transformar um Monza em uma empresa de sucesso. Ele transformou um ex-boia fria em um dos maiores empresários de moda do País. Isso mesmo. Franzato foi boia fria, atividade que começou a exercer aos sete anos de idade, nas fazendas de café de Cianorte, no interior do Paraná, distante 510 km da capital. Só conseguiu se alfabetizar aos 15 anos, quando começou a frequentar um supletivo, etapa que foi sucedida por um curso técnico em contabilidade. No final dos anos 80 conseguiu finalizar o ensino superior, em administração, e ainda retornou à faculdade nos primeiros anos da Morena Rosa, para cursar Direito.
Com esse histórico de superação, não foi difícil, para Franzato, abrir mão de seu carro quando viu que a fábrica de doces e balas em que trabalhava, em 1993, estava prestes a abrir concordata. Mesmo sem saber nada de confecção, acreditou nos instrumentos que tinha em mãos: sua capacidade empreendedora e a facilidade que tem com os números, além do bom gosto da esposa, que era professora de matemática, e da experiência da cunhada, que já trabalhava com alta costura e possuía quatro máquinas.
Antes de se atirar ao empreendimento, porém, Franzato e dois cunhados seus, que entraram como sócios na confecção, fizeram um planejamento para os primeiros cinco anos. Programaram, ano a ano, como o capital seria investido, além de quantas e quais peças seriam fabricadas. Optaram por produzir moletons. “Era moda na época”, lembra. Também planejou como seria a abordagem às lojas multimarcas. Começariam pelos municípios com até 60 mil habitantes, como a própria Cianorte. Depois, partiria para cidades próximas, com até 100 mil habitantes, como a catarinense Brusque. Posteriormente, focaria em polos regionais, como Maringá, e assim por diante.
Enquanto as mulheres cuidavam dos moldes, cortes e costuras, Franzato batia de porta em porta, oferecendo os moletons aos lojistas. Sem carro, viajava de ônibus ou usava um Fusca da família, esforço que logo lhe trouxe resultado: as metas previstas para os cinco anos foram atingidas em apenas três. “Fui percebendo a necessidade de novos mercados”, argumenta. “Colocamos a ideia no papel, e deu muito certo”.
A partir daí, passou a mudar as estratégias. Incluiu a fabricação de jeans, passou a contratar representantes e, cada vez mais, foi aumentando o portfólio de produtos, passando a segmentá-los. Em 1997, criou a marca Zinco, com moda masculina. Em 1998, a marca Maria Valentina, com roupas femininas mais sofisticadas. Em 2004, lançou a linha praia, com a Morena Rosa Beach. E, em 2009, adquiriu a marca Joy, de roupas infantis. Construiu, assim, o Grupo Morena Rosa, que conta atualmente com 19 fábricas espalhadas pelo Paraná e São Paulo, 2,2 mil funcionários diretos, 90 representantes e 3,5 mil pontos de venda.
O planejamento estratégico, segundo Tales Andreassi, coordenador do Centro de Empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, é a principal atividade que deve ser adotada por quem quer investir em um negócio próprio. “É fundamental planejar, incluindo a parte financeira”, orienta.
Franzato concorda. “Visão estratégica e grande senso de organização, além de vontade e disponibilidade para trabalhar muito, são a base para construir uma história de sucesso”, acredita. Por isso, já tem planos traçados até 2020, quando pretende transformar o grupo em sociedade anônima e deixar a gestão, delegando-a para profissionais. Mas, até lá, continuará focando no Brasil, voltado aos consumidores das classes A e B. “Temos público e muito a fazer para melhorar o mercado interno”, avalia. E credita à expansão da economia do País parte do sucesso de seu negócio. “A gente pegou o Brasil andando, e evoluímos juntos”, afirma. “O Brasil é uma paixão”.
Por isso, Franzato, que hoje tem 51 anos, conta que, para devolver à sociedade parte do que conquistou, criou o Instituto Morena Rosa de Desenvolvimento Humano em 2006, em Cianorte, cidade onde tudo começou e que abriga a sede do grupo. Com essa iniciativa, ofereceu atendimentos jurídicos e clínicos com dentistas, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas para quase 37 mil pessoas. Também atendeu 334 crianças em seus projetos sociais relacionados a atletismo, alfabetização e música. “Queremos ajudar, porque a maior lição que tirei, como empreendedor, é que não se constrói uma história sozinho”.
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