Prefeitos: Gerentes ou líderes?

*Fausto Matto Grosso


Vivemos hoje um tempo de falta de confiança nos governantes e descrédito na política. Esses são sinais visíveis dos problemas que marcam o tempo presente. É, portanto, uma oportunidade para realizarmos uma reforma cultural sobre a governança pública.

Para alguns, essa discussão se esgota em polemizar sobre mais Estado ou menos Estado, para outros a simples troca dos nossos políticos e escolha de gestores mais competentes. Errado: esse tipo de Estado e esse tipo de governo estão esgotados, já não conseguem resolver os desafios de uma sociedade que sofreu profundas transformações, tornando-se mais complexa, mais articulada, e mais consciente da sua autonomia. Esse é o cerne da questão.

Todo governo tem que ter capacidade de gestão, mas isso não é suficiente. Não é possível resolver a imensa demanda reprimida da sociedade sem mobilizar os imensos recursos que estão fora dos orçamentos públicos. Fora do governo existem recursos imensos desperdiçados. São recursos, financeiros, cognitivos, organizativos, políticos entre outros. Há que se somar toda essa riqueza, articulando um orçamento ampliado por uma nova governança baseada na democracia e na responsabilidade solidária.

Colocando em termos práticos, quanto vale o eficiente trabalho da Pastoral da Criança no combate à desnutrição infantil, ou das ongs ambientais, quanto vale o imenso voluntariado da cidade a serviço da solidariedade humana, quanto vale o potencial produtivo e de responsabilidade social das nossas empresas, quanto vale o conhecimento das nossas Universidades, o potencial dos pequenos negócios e das organizações da sociedade civil? Tudo isso é desperdiçado, não converge para ajudar no enfrentamento dos desafios do desenvolvimento da cidade.

Há que se juntar esse imenso potencial em um projeto baseado na maximização da coesão social, na organização das interdependências do conjunto dos atores da sociedade para produzir níveis crescentes de desenvolvimento humano. Há que se perceber que a sociedade política, sem a sociedade civil, já não dá conta das imensas demandas de uma sociedade democrática, complexa e articulada em redes. Essa apartação é a fonte da nossa crise de capacidade de governo e de deslegitimização da representação.

Nessa visão, o governo deve ser um agente organizador das potencialidades existentes. Essa é a experiência de regiões que trilharam caminhos mais sustentáveis de desenvolvimento. Robert Putnam estudou e identificou esse modelo nas cidades desenvolvidas no norte da Itália. É dele o conceito de capital social: o conjunto formado pela confiança social, pelas normas e redes articuladas para resolver os problemas comuns com compromisso cívico. Quanto mais densas forem estas redes, mais possibilidades existirão de que os membros de uma comunidade cooperem para obter um benefício comum.

Para cumprir esse papel novo não são suficientes gerentes. A materialização dessa utopia possível, depende de uma mudança cultural, depende do surgimento de lideres que possam entusiasmar e ter o crédito da sociedade. Esses líderes seriam capazes de organizar com a sociedade um grande projeto de longo prazo, onde houvesse a convergência ampla de interesses e fosse calçado em uma liderança moral inequívoca.

Os momentos de crise podem, muitas vezes, serem as oportunidades de criação do novo. As crises são como momentos de partos, elas são caracterizadas pela existência de uma situação em que o “velho já morreu, mas o novo ainda não nasceu”. As possibilidades são apenas duas, acreditar em mais do mesmo ou ousar no parto de novos paradigmas para a gestão pública.

Apressar a emergência de um novo estilo de liderança e de um modo novo de governar é um dos maiores desafios contemporâneo do pensamento progressista.

*Engenheiro, professor aposentado da UFMS

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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