Batayporã: fragmentos de história e a construção da sua identidade

*Érica Bueno Vieira Jardim e **Eduardo Martins


O presente artigo apresenta uma leitura da dissertação de mestrado do professor e pesquisador Danilo Leite Moreira, intitulada “Por uma nova história da emancipação político-administrativa do município de Batayporã-MS (1953-1964), (133 p.) defendida junto programa de Pós-Graduação em História da UFGD, no ano de 2015.

Antes da ocupação não indígena onde hoje se encontra o Estado de Mato Grosso do Sul, que se iniciou no século XVI, já havia nessa região fluxo migratório marcado pela presença dos povos originários, vivendo entre os rios Paraguai e Paraná que são interligáveis entre si e navegáveis. Além dos índios Guarani, é amplamente conhecido e reconhecido a presença de índios Ofaié, que habitavam o território onde hoje está localizado os municípios de Batayporã e Nova Andradina, entre os rios Laranjal e Samambaia até a barranca do Ivinhema.

O município de Batayporã encontra-se localizado na região Sudeste de Mato Grosso do Sul conhecido também como Vale do Ivinhema e foi distrito de Bataguassu, porém se emancipando no dia 22 de outubro de 1963, data em que os deputados aprovaram o Projeto de Lei, elevando o distrito de Batayporã a condição política de município. O seu surgimento se deve, em grande parte, às ações do tchecoslovaco Jan Antonin Bata, proprietário da Companhia Viação São Paulo-Mato Grosso, (CVSPMT) idealizador e fundador de alguns municípios no país. A partir da década de 1950, muitos migrantes de diversas regiões brasileira passaram a colonizar o Sul de Mato Grosso, principalmente onde hoje está localizado o município de Batayporã.

O nome “Batayporã” é composto por três palavras: “Bata”, sobrenome do fundador; “y”, em língua guarani, quer dizer água; e “porã”, boa ou bonita, na mesma língua indígena. Assim, no dia 18 de maio de 2007, foi sancionada pelo então governador do Estado de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), a lei número 1.963, modificando a grafia do nome do município.

Em relação ao município de Nova Andradina este foi colonizado por Antônio Joaquim de Moura Andrade proprietário da colonizadora Moura Andrade & Cia. Este empresário paulista utilizava vários recursos para facilitar no processo de colonização, tais como aeroplano, rádio de ondas curtas, e tratores que possibilitava a abertura de estradas, além de jeeps. No ano de 1954, e nos anos seguintes 1956 e 1957 iniciou-se a construção dos primeiros edifícios, como prédio da Prefeitura, Casa Paroquial e a Santa Casa, marcando dessa forma a chegada dos primeiros moradores de Nova Andradina.

Esse processo de colonização/ocupação da região de Batayporã e Nova Andradina foi possível devido ao projeto do então presidente da República Getúlio Vargas, chamado “Marcha para Oeste” que junto a ele traz as primeiras colonizadoras para a região do Vale do Ivinhema; a “Viação São Paulo-Mato Grosso” (CVSPMT) e a “Moura Andrade & Cia”, se adequando na concepção de “Frente Pioneira”, sendo possível, assim, a chegada de muitos migrantes em busca de um pedaço de terra, bem como de uma possibilidade de uma vida melhor, transformando, em pouco tempo, esses “sertões” em cidades.

O processo de colonização do distrito de Batayporã foi estudado por meio de entrevistas realizadas com os primeiros colonos que habitaram essa região. Os sogros de Dona Eunice estavam entre os primeiros moradores que chegaram após adquirir terras da (CVSPMT). Depois deles várias pessoas começaram a chegar principalmente do Oeste Paulista, interessados em adquirir terras nessa região. Havia apenas a casa de alguns moradores, como a de seu Mamede, que acabou se tornando um lugar de apoio às pessoas que vinham para adquirir terras ali. Eunice Mustafá tinha apenas dezenove anos. Dona Eunice conta, que não tinha nada onde sua família morava só a casa do senhor Henrique Trachta que era gerente da (CVSPMT), a avenida se chamava “Mato Grosso”, mas nos dias de hoje leva o nome da sogra de Eunice “Antonia Spinosa Mustafá”, nos arredores da cidade havia sítios habitados como, por exemplo, a família do senhor Sebastião Enz.

Merece destaque o desmembramento político de Batayporã, visto que, era uma vila que pertencia ao distrito de Ivinhema e a população queria a emancipação elevando-a a categoria de município. Assim, no ano de 1953, o deputado estadual Manoel Oliveira Lima, por meio do Projeto de lei n°150/53, solicita que Batayporã seja elevado a distrito. Com a criação do distrito de Batayporã, a área deixaria de pertencer, então, ao distrito de Ivinhema e passa a pertencer a Bataguassu, o município mais próximo à sede de Batayporã.

Com a elevação de Batayporã a categoria de município foi preciso delimitar seu território e dessa forma construir uma identidade que representasse suas culturas e seus costumes. Como forma de diferenciar Batayporã de Nova Andradina e criar sua própria identidade, foi criado elementos simbólicos como bandeira, brasão e hino, mas isso não sustentaram a construção da identidade batayporãense. Sendo possível essa construção de identidade a partir dos migrantes tchecos que construíram uma identidade tcheca no município. As primeiras intervenções para a manutenção dessa identidade tiveram início com a chegada de professoras da República Tcheca para ensinar aquele idioma no município de Batayporã, as aulas eram ministradas na escola Jan Antonin Bata.

Contudo, a identidade pantaneira ou camponesa ia se misturando e reverberando em tradições como festas do peão, vaquejadas, as festas sacro-religiosas ao Padroeiro Santo Antonio de Pádua e as comitivas boiadeiras que marchavam pelas estradas vicinais, trazendo seus valores, costumes e tradições. Dessa feita uma certa identidade camponesa e religiosa foi-se imprimindo no batayporãense, até porque os limites geográficos entre a cidade e campo são muito próximos, ou seja, a fazenda, sítio ou chácara acaba sendo extensão da cidade e vice-versa. Uma escultura de Cristo em tamanhos gigantes recebe os visitantes e os moradores da urbe de braços abertos, revelando a identidade católica-cristã desse povo.

Por fim, muito embora a colonização de tchecos em Batayporã tenha sido muito forte, a própria memória do povo foi se impondo continuamente, transmitida, ressignificada e reconstruída nos presentes em comunhão com a identidade tcheca.

Batayporã vive porque nas décadas de 1950 e 60 pessoas de diversas regiões do país e migrantes de várias nacionalidades apostaram em uma vida melhor vendo nesse município um novo começo e construíram, não apenas uma cidade, mais também uma identidade através de sonhos e esperanças de uma vida melhor ligados a posse da terra.

Finalmente, fica aqui o convide aos (as) leitores (as) desse artigo para a prazerosa e instigante leitura da dissertação de mestrado do batayporãense Danilo Leite Moreira. E esperamos que muito em breve vire um livro.

Restando, por fim, parabenizar o autor.

*Acadêmica do sétimo semestre do curso de História da UFMS, campus de Nova Andradina, atualmente cursando o sétimo semestre letivo (pesquisadora).

**Docente adjunto 3 do curso de História da UFMS, campus de Nova Andradina (orientador).

Este texto, não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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