Uma das maiores tragédias na história brasileira do século XX foi o golpe civil-militar de 1964. Trata-se de um episódio que resultou na imposição do autoritarismo, em graves violações dos direitos humanos e na sedimentação de uma sociedade mais injusta e desigual.
A história do Brasil, desde a chegada dos colonizadores portugueses no começo do século XVI, possui o símbolo da opressão e da desigualdade social e econômica. A elite colonial floresceu com a usurpação das terras indígenas, cujas populações foram sistematicamente dizimadas, para o estabelecimento de latifúndios alicerçados no trabalho dos povos africanos trazidos pela força na condição de escravizados.
Os produtos agrícolas gerados na colônia, sendo o açúcar um dos casos mais famosos, eram destinados ao mercado externo europeu. O resultado foi a riqueza da elite latifundiária, agraciada com títulos de nobreza pela Coroa portuguesa, e uma população trabalhadora, escravizada e livre, subsistindo em condições de penúria e miserabilidade.
Os acontecimentos que marcaram a vida política do Brasil no século XIX, vide a independência (1822) e a instauração do regime republicano (1889), foram protagonizados pelas elites econômicas e sociais com o propósito de manter seus privilégios. Um fato novo é que, na República, as forças armadas se impuseram como uma espécie de “poder moderador” diante dos conflitos entre as elites civis e as ameaças das forças populares em nome da garantia da “ordem”.
Além da maior presença das forças armadas na vida política, a história republicana brasileira é marcada desde suas origens pelos esforços de organização dos setores populares na luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Uma luta com antecedentes na resistência heroica da população escrava, indígena e livre contra a violência e opressão das elites agrárias desde a época colonial.
No entanto, no decorrer da primeira metade do século XX, foi ficando cada vez mais difícil para os setores privilegiados do país manter o status quo em face da crescente solidez das lutas operárias. Os trabalhadores e trabalhadoras se organizaram em sindicatos sob influência de ideias anarquistas, socialistas, comunistas e trabalhistas, e reivindicaram direitos.
A ascensão da luta popular teve como resposta uma intensa repressão, no campo e na cidade, e a implantação de duas ditaduras: uma em 1937, sob a chefia de Getúlio Vargas e o amparo das forças armadas e das elites econômicas; e outra em 1964, sob o comando militar.
No início da década de 1960, as demandas dos setores populares encontraram eco no governo reformista de João Goulart, presidente desde setembro de 1961. Diante disso, houve uma intensa estratégia de desestabilização por parte de setores civis e militares contra o governo. Em 13 de março de 1964 João Goulart assinou um decreto de reforma agrária, para pavor do setor latifundiário do país. O presidente almejava um conjunto de reformas que criasse condições para a construção de um país mais democrático em todos os níveis sociais.
No final de março de 1964, com respaldo de setores civis conservadores que pensavam que o Brasil estava se encaminhando para o comunismo, as forças armadas depuseram João Goulart. Esse tipo de intervenção militar não era inédito na história do país. O fato novo é que a partir do golpe se construiu uma Ditadura Militar que durou mais de duas décadas.
O golpe de 1964 possibilitou que as regras constitucionais do país fossem alteradas para a manutenção de um mesmo grupo no poder (elites civis e militares) e houvesse a perseguição, silêncio e aniquilamento dos setores de oposição. Foi a época do autoritarismo e do terrorismo de estado que deixou como legado uma sociedade fraturada e mais desigual.
Recordar o golpe de 1964 é um ato importante para que as novas gerações não esqueçam do passado e nunca mais permitam que golpes e ditaduras venham ocorrer no Brasil.
*Professor do Curso de História da UFMS/CPNA
Este texto, não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova
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