Aquecimento no Pantanal e na Amazônia está entre os maiores do país nos últimos 40 anos

Plataforma MapBiomas Atmosfera mostra que temperatura subiu 1,9°C no Pantanal e 1,2°C na Amazônia

Luis Gustavo, Da Redação*


O aumento da temperatura nos biomas do Pantanal e da Amazônia está entre os mais acentuados do Brasil nas últimas quatro décadas, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (5) pelo MapBiomas. As análises indicam que o Pantanal registrou um acréscimo médio de 1,9°C, enquanto a Amazônia teve 1,2°C de elevação no mesmo período.

 

As informações fazem parte da nova plataforma MapBiomas Atmosfera, lançada nesta quarta. A ferramenta utiliza imagens de satélite e modelagem de dados para oferecer informações sobre variações de temperatura, precipitação e poluentes atmosféricos em todo o território nacional, com séries históricas que vão de 1985 a 2024.

 

Ritmo de aquecimento varia entre os biomas

De acordo com o levantamento, a temperatura no Brasil aumentou, em média, 0,29°C por década, resultando em uma elevação total de 1,2°C nos últimos 40 anos. No entanto, o ritmo do aquecimento difere entre as regiões.

 

No Pantanal, o aumento médio foi de 0,47°C por década, enquanto o Cerrado registrou 0,31°C e a Amazônia, 0,29°C. Os biomas costeiros, como Caatinga, Mata Atlântica e Pampa, apresentaram taxas mais brandas — entre 0,14°C e 0,25°C por década.

 

“Os dados mostram que, de maneira sistemática, a temperatura está crescendo em todo o Brasil desde 1985. O ano passado foi recorde, mas não é um evento isolado”, explica Luciana Rizzo, professora do Laboratório de Física Atmosférica da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera.

 

Em 2024, a Amazônia e o Pantanal registraram as maiores médias anuais de temperatura desde 1985 — 1,5°C e 1,8°C acima da média histórica, respectivamente. O aquecimento coincidiu com secas extremas e queimadas que atingiram ambas as regiões no ano passado.

 

Estados continentais são os mais afetados

Os dados mostram que os estados do interior, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Piauí, estão aquecendo mais rapidamente, com taxas entre 0,34°C e 0,40°C por década. Já os estados litorâneos, como Rio Grande do Norte, Alagoas e Paraíba, registram os menores índices, entre 0,10°C e 0,12°C/década.

 

Na região metropolitana de São Paulo, o aumento médio é de 0,19°C por década, influenciado pela urbanização e pelo chamado “efeito de ilha de calor”.

 

Desmatamento intensifica o aquecimento

Para o coordenador-geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, o avanço do desmatamento é um dos principais fatores que impulsionam o aumento das temperaturas. Desde 1985, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa, o equivalente a 13% de sua cobertura original.

 

“No mesmo período, o bioma teve aumento médio de 1,2°C. A perda de florestas modifica as trocas de calor e vapor d’água com a atmosfera, resultando em temperaturas mais elevadas”, explica Azevedo.

 

Um estudo publicado na Nature Geoscience e citado pelo MapBiomas aponta que o desmatamento é responsável por 74% da redução das chuvas e 16% do aumento da temperatura na Amazônia durante a estação seca.

 

Menos chuva, mais fogo

Em 2024, a Amazônia recebeu 448 milímetros a menos de chuva que a média histórica — uma redução de 20%. Em algumas áreas, a anomalia chegou a 1.000 mm/ano. A estiagem contribuiu para o aumento recorde da área queimada, que atingiu 15,6 milhões de hectares.

 

“A poluição do ar no Norte foi mais intensa do que em áreas fortemente urbanizadas do Sudeste. A fumaça dos incêndios florestais é a principal responsável pela baixa qualidade do ar”, destaca Rizzo.

 

No Pantanal, que registrou a maior elevação de temperatura do país, o regime de chuvas também foi afetado: em 2024, a Bacia do Alto Paraguai teve 314 mm abaixo da média, com 205 dias sem precipitações.

 

Ferramenta para políticas públicas

Segundo Paulo Artaxo, professor da USP e integrante do MapBiomas Atmosfera, a nova plataforma permitirá aprimorar o monitoramento climático e orientar decisões estratégicas.

 

“É uma ferramenta que ajuda o Brasil a desenvolver políticas públicas baseadas em evidências científicas e identifica as regiões mais vulneráveis às mudanças do clima e ao uso da terra”, afirma.

 

O MapBiomas Atmosfera está disponível para consulta pública e integra o esforço de diferentes instituições de pesquisa brasileiras para compreender os impactos do aquecimento global sobre os ecossistemas nacionais. *Com informações da Agência Brasil.

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