''Titinha'' é indiciado pela prática de feminicídio, diz Delegada

Glaucia Piovesan


Após proceder ao interrogatório de Djalma Marinho Umburana de 47 anos, vulgo Titinha, acusado de espancar a ex-esposa, Andrea Regina Moreira Cavalcante de 50 anos, que morreu em virtude dos ferimentos, no dia 13 de abril, depois de permanecer internada cinco dias na cidade de Dourados, a Delegada Titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) concedeu entrevista à imprensa na tarde desta quarta-feira (4).

O acusado foi preso há dois dias numa fazenda próxima a Batayporã, 25 dias após o crime, graças à ação conjunta entre Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) e a Seção de Investigações Gerais (SIG) da 1ª Delegacia de Nova Andradina. Segundo informações da delegada Daniella Oliveira, a polícia chegou a Titinha após denúncia anônima. Desde o momento em que a DAM e depois forças de segurança tiveram conhecimento das agressões começaram as diligências no sentido de prender o autor. Porém, não haviam logrado êxito de encontra-lo.

>> Leia também

Acusado de espancar ex-mulher que morreu em hospital é interrogado na DAM

SIG e DAM de Nova Andradina prendem acusado de espancar ex-mulher que a levou à morte

Filho de acusado de matar ex-esposa em Nova Andradina é detido na fronteira

Mulher que foi espancada pelo ex-marido falece no Hospital da Vida em Dourados

DAM investiga feminicídio em Nova Andradina

Para Dra. Daniela, o apoio da sociedade para chegar à prisão de Djalma foi primordial. “As buscas foram incessantes desde o momento em que foi concedido o mandado de prisão preventiva. Cada denúncia era averiguada. Não foi fácil devido a extensão da cidade com muitos assentamentos e sítios, além da rede de relacionamento do autor, pois algumas pessoas o ajudavam na fuga. A sociedade sempre esteve ajudando com denúncias em todas esferas da polícia – Civil, Militar, aqui na DAM, enfim, graças a uma dessas denúncias, chegou-se ao autor. Isso não demonstra que querem crucifica-lo, mas de alguma forma, que seja responsabilizado pelo seus atos”, esclarece.

Dra. Daniella Oliveira, Titular da DAM e que comanda as investigações - Foto: Luiz Gustavo/Jornal da NovaOito policiais fizeram o cerco na Fazenda Milani II, no município de Batayporã, para prender o acusado. De acordo com a polícia não houve resistência à prisão. Dra. Daniela conta que quando os policiais chegaram ao local para checar as informações, Djalma estava escondido no mato, percebeu a presença dos investigadores e ficou deitado para não ser visto. Ao perceber que os policiais passaram por ele, ergueu a cabeça e acabou sendo visto por outra equipe que vinha logo atrás. Os policiais então acabaram avistando-o e conseguiram prendê-lo.

Durante o interrogatório à polícia, Djalma disse que não tinha a intenção de agredir a ex-mulher, que era mãe de seus filhos e a amava. Segundo Daniela, o acusado nem sequer chegou a justificar seu ato e aparentemente encontra-se não perplexo, mas como se tivesse reconhecido um erro. “Não que tenha dito isso a mim, mas pessoalmente dá para perceber isso, a pessoa entregue aquela situação. Ele alega não ter agredido a vítima. Diz que houve uma discussão entre eles, sem ofensas verbais, sem agressões físicas, sem qualquer tipo de ameaça, informando apenas ter discutido com a vítima e ao tentar empurrá-la já que a mesma ‘avançou’ em sua direção, ambos acabaram por cair na guia da sarjeta, momento em que a vítima teria chocado sua cabeça contra a guia e ocorrido a fatalidade”, cita a delegada sobre suas alegações.

Após ouvir o depoimento do autor do crime na presença de seu advogado, a delegada confirmou que deverá interrogar alguns familiares, oficiais de Justiça e o motorista do táxi que teria levado Andrea para pegar roupas na sua residência e testemunhou o início da discussão entre a vítima e o acusado, tendo inclusive chamado a polícia. Como houve algumas declarações contraditórias, algumas pessoas serão intimadas novamente e outras que ainda não foram chamadas deverão ser interrogadas nos próximos dias. Finalizada as oitivas, o procedimento segue relatado para o juiz, que decidirá se abre vistas a promotoria ou denúncia indo a júri ou não.

Djalma Marinho Umburana será indiciado pela prática de feminicídio, haja vista o fato ter acontecido em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como envolver questão de gênero, além das qualificadoras de homicídio por motivo torpe e por recurso que dificulta-se ou tornasse impossível a defesa da vítima.

Ainda nesta tarde, o acusado passou pelo exame de corpo de delito e será encaminhado para o estabelecimento penal masculino de Nova Andradina, onde permanecerá recolhido e a disposição da Justiça.  

Por orientação do seu advogado, Titinha não quis se pronunciar e nem dar qualquer informação à imprensa. O processo corre sob sigilo. Segundo a delegada, o sigilo foi decretado devido às alegações íntimas e pessoais por parte do autor do crime, a fim de resguardar a imagem da vítima que não pode se defender por questões óbvias e o próprio autor. O sigilo acontece em relação aos autos do inquérito policial, ou seja, aquilo que vem sendo produzido como prova, será encaminhado ao juiz e deve virar um procedimento criminal. Se o caso for a júri, será público.

Momento em que o acusado chega à DAM para prestar depoimento - Foto: Jornal da Nova

Até o momento, a polícia não tem conhecimento se a defesa de Djalma teria entrado com habeas corpus pedindo a liberdade provisória do acusado. Porém, a delegada Daniella acredita que seu advogado deve impetrar com seu pedido, pois é um direito do réu garantido pela constituição. “Porém, diante das circunstâncias, diante da gravidade e dos motivos que ensejaram o pedido de prisão preventiva não acredito que autor será posto em liberdade”, ressaltou.

Laudos

Desde que foram constatadas as agressões na vítima, a DAM requisitou seu prontuário médico e os laudos médicos tanto do Hospital Regional de Nova Andradina, quanto do Hospital da Vida de Dourados.

Os laudos apontam que houve agressões graves ou gravíssimas. A polícia ainda aguarda um laudo que deve chegar em 30 dias. Também serão anexados os laudos dos médicos legistas dos dois municípios que constatam as lesões. Em ambos, constam traumatismo craniano, afundamento de crânio, hematomas nos olhos. Tudo isso, seriam evidências de que houve agressões à vítima Andrea, o que contradiz o depoimento do acusado.

Cobertura do Jornal da Nova

Quer ficar por dentro das principais notícias de Nova Andradina, região do Brasil e do mundo? Siga o Jornal da Nova nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube. Acompanhe!