Grupo Vocal Vida & Voz prepara espetáculo a partir de músicas do estado de MS

Alex Pires, um dos líderes do grupo, conta a história do Vida & Voz e como é ser um dos ícones do ativismo cultural de Nova Andradina

Glaucia Piovesan, Da Redação


Nesta sexta-feira (31), o Jornal da Nova traz uma entrevista com Alex Pires, que é um dos líderes do Grupo Vocal Vida & Voz de Nova Andradina. O professor de canto e música conta um pouco da história do grupo, as novas produções e sobre como tem feito durante os últimos 18 anos para viver como um dos ícones do ativismo cultural no interior do Estado.

O Vida & Voz surgiu na vida de Alex quando ele começou a integrar o coral de acadêmicos da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), sob a regência do professor e gerente do Campus Nova Andradina, Fernandes Ferreira.

“Como se tratava de um projeto de extensão foi agregando pessoas da comunidade. Ganhou visibilidade como coral, evoluiu e mostrou muitos talentos no desenvolvimento de arranjos musicais. Ao longo dos anos sofreu algumas alterações. Como eu e o Fernandes éramos amantes do teatro musical, que é um tipo de arte que envolve cantar, dançar e atuar, acabamos agregando novas possibilidades ao canto porque percebemos que tínhamos habilidade para fazer muito mais do que cantar. Foi quando começamos a fazer as performances”, explicou, relembrando um dos momentos de incerteza da manutenção deste grupo.

“Quando o professor Fernandes se transferiu para Campo Grande, o projeto de extensão passou a não ser mais da UEMS, mas sim da comunidade. Éramos 13 pessoas e entramos num conflito para ver se o grupo continuava ou parava ali. Como era um trabalho que tinha o reconhecimento da comunidade, optamos por mantê-lo”, informa.

Em 2008, veio o primeiro grande sucesso com a apresentação de Godspell, musical americano em que hippies contam a história de Deus. “Foi marcante para a nossa vida. Fizemos 15 apresentações em várias cidades do Estado e na Capital. Desde então, não paramos mais de fazer este trabalho. A partir daí, todos os anos lançamos um espetáculo”, rememora.

No ano passado, por exemplo, o concerto "Clássicos do Cinema" foi dedicado as canções que marcaram época e a vida de muitas pessoas, como Uma Linda Mulher, O Guarda-Costas, O Rei Leão, Dançando na Chuva, Mudança de Hábito, Titanic, A Bela e a Fera, Mamma Mia e muitas outras.

Para Alex Pires, o Vida & Voz é um marco para Nova Andradina e Batayporã, já que tem membros moradores da cidade vizinha, pois é o primeiro grupo de teatro musical do Estado. “Foi pioneiro nessa perspectiva. Hoje é comum vermos peças e produções com orçamentos gigantescos. Aqui montamos espetáculos com orçamento de R$ 10 a 12 mil, com média de 30 pessoas. Todos os atores são voluntários. Não tem fins lucrativos. Oferecemos apenas ajuda de custo para deslocamento com transporte e alimentação”, defende o entusiasta.

Necessidade de inovação

Mais recentemente, com a necessidade de inovação, o grupo buscou profissionais que pudessem complementar os talentos já existentes. “Hoje estão conosco uma tecladista, coreógrafo e professor de dança, professora de canto (musicista), professor de teatro, entre outros que agregaram novos valores”.

Grupo Vocal Vida & Voz – Foto: Arquivo/Lúbina Laguna

Uma das dificuldades é justamente esta: achar pessoas que queiram desafiar a cantar, dançar e atuar. “Não temos um elenco fixo. Mantivemos cerca de 7 a 8 profissionais mais antigos, que têm uma amizade de muitos anos, mas tem sempre 6 ou 7 que estão chegando e nunca são os mesmos”, revela o músico.

Nova produção está em fase de pesquisa

O próximo teatro musical do Grupo Vida & Voz vai mostrar as músicas, folclores, costumes, poetas e pensadores do Estado de Mato Grosso do Sul.

O novo projeto está em fase de pesquisas e alguns ensaios já começaram a acontecer.  A peça está sendo desenvolvida com o próprio Alex Pires na coordenação geral e musical.  Fábio Arruda será o responsável pela montagem do elenco e João Rafael pela coreografia.

“As músicas já foram escolhidas. O trabalho não é trazer aquilo que as pessoas estão acostumadas a ouvir no CD. Existe um processo para transformar a música para o teatro. Então, músicas que têm um estilo rápido serão remixadas e ficarão mais lentas, ou transformadas num blues. A ideia é que pessoas tenham uma perspectiva diferente do que usualmente ouvem na rádio, ou num barzinho”, pontua o diretor. 

Descoberta de novos talentos

“Sendo um professor de canto e ativista cultural, me sinto neste compromisso de trazer a furo pessoas que ainda não tiveram o talento reconhecido. Existem muitas pessoas escondidas e que poderiam estar se dedicando a música, a dança e assim por diante”.

É assim que o professor que trabalha com música há 18 anos, sendo 12 desses anos dedicado ao canto e ao teatro musical, se sente. Por isso, o Vida & Voz acompanha paralelamente a vida profissional de Alex, que hoje atua como professor de língua portuguesa, professor de canto e música nos programas sociais e funcionário da Fundação de Cultura. “A arte e a cultura me trouxeram até aqui”. 

Questionado sobre se consegue viver da cultura, ele responde citando o poeta sul-mato-grossense, Manoel Marinho: “Poesia não compra sapato, mas como viver sem poesia?”. Em Nova Andradina, o cenário, nos últimos 5 anos tem evoluído muito. Com a criação da Fundação de Cultura hoje é possível dizer que temos um órgão que representa e fomenta a cultura local. Fazer arte numa cidade do interior não é fácil. É você se doar, sem esperar algo em troca, porque não dá para viver financeiramente ainda no Estado e em Nova Andradina, viver de arte, mas quem tem isso no sangue não sabe viver sem fazer ou viver sem”, frisa.

Apoio e políticas públicas

Para o professor, o poder público de Nova Andradina tem apoiado os trabalhos do Vida & Voz. “O espaço que utilizamos é a Câmara de Vereadores, que também sempre nos apoiou. A comunidade de Nova Andradina sempre foi muito receptiva, presente nas nossas peças. Esta é a maior motivação para mantermos este grupo”, destaca.

Outro diferencial do município que mereceu os elogios de ativista cultural foi a criação da Fundação Nova-Andradinense de Cultura, que funciona como um órgão regulador das políticas públicas. “Dentro do cenário estadual, Nova Andradina passa a ser vista de uma outra maneira com a criação da Fundação.   Podemos até discutir a forma como algumas coisas estão sendo feitas, mas hoje existe um órgão para representar artistas e fomentar a arte, para que novos artistas surjam e sejam valorizados”, encerra.

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