O roubo quase perfeito

Londres, Inglaterra. Dezembro de 1989

*Felipe Pereira


Ninguém dera importância ao homem de sobretudo negro que caminhava despreocupado para dentro do avião. A longa e pesada veste não chamou a atenção, graças ao tempo frio do outono londrino. Vários passageiros embarcaram desatentos, cada um perdido em seus devaneios. Não era um dia de grande importância, apesar de que muitas coisas aconteciam mundo afora; por exemplo: Berlim que derrubara recentemente o muro que separava seus cidadãos.

A guerra fria entre as duas maiores potências bélicas do mundo estava por um fio de terminar, as nações que durante muitos anos viveram à beira de uma Terceira Guerra Mundial, finalmente podiam sonhar com a paz.

Quando o avião alçou voo, e todos jaziam confortados em seus lugares, o homem de sobretudo fez um gesto para chamar uma aeromoça.

— Deseja alguma coisa, senhor? — A funcionária perguntou.

— A senhorita poderia levar este bilhete ao piloto, por gentileza! — O homem sorriu amigavelmente.

A responsável pela entrega bateu na porta da cabine e entregou o pequeno papel na mão do destinatário. O piloto examinou o conteúdo e levantou os olhos assustados para a mulher.

— Quem te mandou isso? — Indagou.

— Um passageiro. Por quê? O que diz aí?

O piloto passou o bilhete para a aeromoça e ela leu as letras apressadas e urgentes: “Estou com um colete recheado de bombas, mandem para mim o valor de cem mil dólares e nada acontecerá”. A mulher espantou-se e tremeu, sem saber como agir.

— Chame-o aqui. — Ordenou o piloto.

A aeromoça foi célere ao assento do criminoso, e com a voz embargada de medo falou:

— O piloto deseja vê-lo.

Chegado à cabine, o homem de casacão travou um diálogo com o responsável pela condução aérea:

— O que eu peço é razoável; ou a vida desses passageiros não vale míseros cem mil?

 — Tenho sua palavra de que não fará nada para prejudicar as pessoas inocentes desse avião?

— Honrarei minha promessa. Peça também um paraquedas.

O piloto transmitiu um comunicado pelo rádio, exigindo os cem mil e o paraquedas para dar ao assaltante. Quando o avião pousou no primeiro aeroporto para fazer a escala, os passageiros foram orientados a deixar o veículo. Permaneceram somente os funcionários.

Quando a aeronave ganhou novamente os ares, e as exigências foram cumpridas pela empresa do transporte aéreo, o homem com as bombas ordenou ao piloto que abrisse a porta de emergência. O pedido foi atendido e o assaltante saltou com uma pasta repleta de dinheiro em espécie e com o paraquedas na costa.

Se a narrativa terminasse aqui, esse seria, sem dúvida alguma, o roubo mais perfeito da história; porém uma surpresa surgiu ao ladrão. Quando o mesmo estava em queda livre e aproximava-se do ponto de impacto, tentou acionar o equipamento de pouso. Contudo, para sua infelicidade, o apetrecho de segurança recusou-se a participar do ato terrorista e não se abriu.

— Que azar! — Bradou o criminoso. Sem mais o que fazer, deliberadamente sorriu, e entregou-se à punição divina.

*Estudante de contabilidade e morador de Nova Andradina

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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