O reinado de Vougan

*Felipe Pereira


Fazia meio século que o elfo Denzel habitava na terra dos homens. Ele decidiu abandonar o seu povo, saiu sem nenhum arrependimento da ilha Tristão. Os elfos deixaram-se levar pela influência e o tremendo poder de Vougan. Denzel vivia, agora, numa floresta entre os irlandeses.

Por cinquenta anos, Denzel teve algo semelhante à paz. Contudo, pressentiu que Vougan se aproximava. O confronto era inevitável. Vougan foi pupilo de Denzel; os dois tinham, no passado, uma relação de pai e filho.

O elfo exilado caminhou por entre as árvores e estacou no seu lugar preferido. Uma cachoeira derramava-se, formando um pequeno lago. Havia tempo que o poder dele não se manifestava, porém, neste dia, seu dom despertou e lhe dissera que dentro de algumas horas seu ex-aluno viria matá-lo. Denzel não tinha medo de morrer e a única tristeza que carregava era a de ter falhado como mestre. Ensinara a Vougan o caminho para a magia da Criação, a mais antiga e poderosa magia. Poucas pessoas conseguiram acessá-la, mas ninguém jamais conseguiu controlá-la. Esse poder antigo consumia quem dele se alimentasse.

Repentinamente, as árvores se agitaram e um vento mórbido percorreu os arredores de onde Denzel se encontrava. A ventania foi se acalmando até sumir de vez. O exilado suspirou fundo e disse:

 — Eu jamais te quis ver trilhando esse caminho.

 Vougan nada respondeu, aguardou em silêncio. Aproximou-se de seu velho mestre. Por fim, indagou:

 — Então, por que me induziu a isto?

 — Não supus que você iria atrás. — Disse simplesmente.

 — No fundo, você queria me ver atingindo a excelência, o domínio sobre todas as criaturas mágicas. Eu consegui, percorri por caminhos sombrios, custou-me muito chegar até o segredo da Criação. Eu sou o mais poderoso de todos.

 — Não, Vougan. Eu queria que você lutasse por nós. Ninguém pode dominar esse poder. Você não foi o primeiro a tentar.

 — Mas eu sou o mais forte.

 — Se pensa assim, você é fraco.

O elfo poderoso pôs a mão na bainha e retirou de lá uma espada e disse para Denzel:

 — Lembra-se dela? Você me deu.

 — Como poderia esquecer?!

O elfo exilado continuava a fitar a cachoeira. Não tentaria lutar para salvar-se, sabia ser inútil.

 — Acredito que ainda não foi consumido por inteiro. Ainda não fez o sacrifício, o ritual não se completou. — Explanou Denzel.

 — Foi por isso que vim. Sei que você sentiu. Quando eu matá-lo, serei invencível. Finalmente, Denzel, trarei prosperidade para todos. Chega de guerra e de matanças. Eu estarei no comando, farei dos seres vivos uma única nação.

 — Você tirará o essencial, a liberdade de cada um. Você não pode interferir no livre arbítrio. — Agora, Denzel estava encarando Vougan nos olhos, — custará caro para você. Ainda dá tempo de salvar sua alma. Quando o ritual se completar, ninguém mais poderá te ajudar.

 — Eu não preciso de ninguém!

Vougan preparou a espada e fez um corte horizontal. A cabeça de Denzel rolou pela grama; logo em seguida, o corpo tombou, o sangue jorrou exponencialmente.

Neste instante, o céu escureceu. As forças da Natureza ajuntaram-se e formaram um gigantesco redemoinho, penetraram violentamente em Vougan. Os olhos do elfo escureceram. A partir daquele momento, ele era o ser mais poderoso que existia.

 

*Estudante de contabilidade, morador de Nova Andradina e autor de livros

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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