Caso encerrado

*Felipe Pereira


O carro estacionou em frente à porteira de ferro. Meu pai desceu do veículo e pulou a porteira, eu imitei-o. Fazia muitos anos que ele não pisava os pés ali.

Segui ele até o local onde antes era sua casa. Foi ali que meu pai passou grande parte da sua infância.

Havia uma enorme mangueira, percorremos ela atrás de algum vestígio da antiga casa. Nada encontramos.

Ouvi uma entonação de tristeza quando ele disse:

 — Isso aqui está bem diferente do que me lembro.

Fiquei em silêncio, ele tornou a falar:

 — Ali embaixo é a represa onde a minha irmã quase me matou afogado.

 — Vamos até lá, — falei.

Enquanto descíamos o barranco para chegarmos na represa, eu perguntei:

 — Está com saudades da sua infância?

Ele, sem me olhar, respondeu:

 — Estou com saudades do meu pai. — Nesse momento, não vi mais o homem que enfrentou a vida com dureza, vi a criança em busca de um abrigo emocional.

Eu nunca conheci meu falecido avô paterno, tudo o que sei a respeito dele foi meu pai quem me disse.

Enfim, chegamos na represa. Ele olhou longamente aquelas águas que lhe molharam a meninice e lhe contemplaram o olhar da velhice.

Após alguns minutos, retornamos para a estrada.

Ele me disse que quando suas irmãs foram embora daquele lugar, ele via o sol se pôr em cima do telhado da velha casa. Solitário admirava a beleza do entardecer.

Antes de pularmos novamente a porteira e seguir viagem, ele vislumbrou seu arredor mais uma vez, não sei com quais emoções e pensamentos ele disse estas últimas palavras:

 — Isso aqui é caso encerrado!

*Estudante de contabilidade, morador em Nova Andradina e autor de livros

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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