Amor belga

*Felipe Pereira


É primavera em Bruges. Há algum tempo decidi morar na Bélgica. Eu estava cansado da agitação de Londres. Um certo dia apontei o dedo no mapa europeu e a sorte caiu sobre a cidade de Bruges. Vim para cá e fiz minha morada.

Quando termino minhas horas laborais, ponho-me a caminhar pelas ruas medievais de Bruges. A cidade é como um conto de fadas, caminhar por suas ruas é como voltar à idade média. A calmaria da cidade me traz uma sensação de sossego que eu não tinha em Londres.

Em uma dessas minhas caminhadas, vi uma moça desesperada na ponte do canal principal. Ela colocava a mão na cabeça e olhava para a água. Quando me aproximei, escutei ela exclamando:

— Meu Deus, meu celular!

A mulher pôs a mão no rosto, vi que lágrimas caíam, seu rosto estava vermelho.

 — Droga! — a mulher continuou exclamando.

 — Boa tarde! — eu disse.

 — Oi, boa tarde! — ela estava desconsertada.

 — Sinto muito pelo seu celular.

 — Eu precisava muito dele.

Fiquei um momento em silêncio. A mulher estava penalizada.

Não pensei muito, apenas agi. Tirei a camisa e os sapatos e pulei no canal. Ao primeiro contato, a água estava gelada; porém, logo meu corpo se adequou à temperatura.

Demorou um pouco, mas consegui recuperar o celular. Sai do canal e entreguei o aparelho à dona.

 — Você é maluco? — ela perguntou, parecia irritada ao mesmo tempo que estava agradecida.

 — Queria ajudar!

Ela me encarou por um momento, abriu um sorriso e então agradeceu:

 — Obrigada!

A mulher tentou ligar o celular, ele funcionou normalmente; segundo ela, o celular era à prova de água.

 — Estou com um pouco de frio, poderia me agradecer com um café. — Sorri e me apresentei. — Sou Noah.

 — Eleanor.

 — Bonito nome.

 — Obrigada.

Fomos para uma cafeteria, e conversamos por horas. Só nos demos conta do horário quando o dono da cafeteria deu a entender que ele queria fechar o estabelecimento. Paguei a conta e acompanhei Eleanor até sua casa.

Assim que chegamos em frente ao portão, ela me agradeceu mais uma vez:

 — Muito obrigada mesmo, por ter resgatado meu celular e pelo café.

 — Se seu celular cair novamente no rio, pode me chamar.

 — Tudo bem, eu chamo.

 — E se você derrubasse ele amanhã de novo, no mesmo horário? — eu sugeri, com um sorriso brincalhão no rosto.

Ela sorriu de volta, com um sorriso encantador.

 — Talvez o celular não caia, mas estarei lá.

Demos um abraço rápido em despedida. Ela entrou e acenou um até logo antes de fechar a porta. Eu ainda fiquei um pouco lá fora, depois fui embora.

Eu era o homem mais radiante do mundo naquele momento.

*Estudante de contabilidade, morador em Nova Andradina e autor de livros

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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