O assassino de Whitechapel

*Felipe Pereira


Denver Mclean remexia-se violentamente na cama. Desde que ele voltou da sua visita a Londres, ele vinha sofrendo com terríveis pesadelos.

Denver morava na cidade de Austin, no Texas. Seus avós eram da Inglaterra, e esse foi o fator que o motivou a conhecer suas origens.

Entretanto, desde que regressou a sua cidade, os pesadelos têm sido frequentes e lúcidos.

Neste momento, fortes espasmos estão agredindo seu corpo, enquanto o conteúdo da sua mente o impede de acordar, deixando-o num sofrimento psíquico.

No sonho, Denver Mclean está com uma faca oculta em seu casaco, uma mulher está ao seu lado. A postura da mulher é insinuativa, com gestos provocativos e sexuais.

— Vamos nos divertir muito, querido! — a mulher diz, mordendo os lábios de maneira sugestiva.

— Com certeza, vamos. — A figura onírica de Denver diz, com uma tonalidade maliciosa.

Quando os dois se afastam da agitação, e estão em um beco vazio e escuro, Denver puxa a faca e, antes que a mulher consiga protestar, ele corta a garganta dela.

Denver acorda suando frio. Sua respiração está pesada. Ele chora, os pesadelos estão cada vez mais realistas.

Após acalmar-se um pouco, ele olha o relógio, são cinco da manhã. Ele faz um café e se arruma, sai para o trabalho.

Jim, seu melhor amigo no trabalho, e fora dele, observa o estado lastimável de seu amigo.

 — Outro pesadelo? — pergunta Jim.

 — Está cada vez pior, Jim. Não sei o que fazer.

 — Sonhou algo diferente dessa vez?

 — A mesma coisa, eu com uma faca matando uma mulher.

 — Conversei com minha esposa ontem, e ela sugeriu que eu te falasse a respeito de uma hipnoterapeuta que é amiga dela.

 — Será que me ajudaria?

 — Vale a pena tentar, não? — Jim anotou o endereço num pedaço de papel e entregou ao amigo.

Denver pegou o endereço, e durante todo expediente ficou pensando no conselho que Jim havia lhe dado.

Após muito se decidir, Denver agendou uma consulta com a Dra. O’Connor.

Ele observou a grande sala da hipnoterapeuta, era simples. Tinha uma escrivaninha e um divã e dois vasos de flores.

 — Sr. Mclean, por favor, deite-se. — Pediu a Dra. O’Connor.

Denver obedece.

 — Muito bem, me diga o que está acontecendo. — Fala a hipnoterapeuta.

 — Tenho tido uns sonhos estranhos.

 — Pode me descrever esses sonhos?

 — Estou em uma rua escura e deserta, com uma faca na mão e uma moça está ao meu lado. Por fim, corto a garganta dela.

 — Desde quando você tem tido esses pesadelos?

 — Desde que voltei da Inglaterra.

 — Você viu alguma coisa na Inglaterra que te perturbou?

 — Não sei dizer. Teve algo. Não foi bem uma perturbação, foi mais como uma estranheza familiar.

 — O que causou essa estranheza familiar?

 — Foi quando fui ao bairro de Whitechapel.

 — Alguma outra coisa te chamou atenção nesse bairro?

 — Sim. Ouvi a história do Jack, o Estripador.

 — Por que essa história te perturbou tanto?

 — Porque foi como se eu tivesse uma sensação de que havia, de certa forma, vivido aquilo.

 — Certo! Denver, vamos para a hipnose. Você já foi hipnotizado? Sabe como funciona?

 — Jim me falou mais ou menos como funciona.

 — Então vamos lá. Relaxe os braços e as pernas. Respire fundo e lentamente.

Denver fez exatamente o que a Dra. O’Connor pediu. Sentiu seu corpo relaxar, a tensão abandonando-o. Seus olhos foram ficando cansados. Era como se uma sensação de paz invadisse-o. Um estado de estupor.

 — Denver, conte-me seus temores.

Ele falou.

Denver sentiu-se transportado.

Ele estava com uma faca, uma jovem estava caminhando ao seu lado. Estavam saindo da área de pico do bairro. A mulher que caminhava com ele era uma prostituta. Ele não pretendia ter relações com ela, só queria matá-la, assim como havia matado as outras. Essas putas eram desprezíveis, pessoas que não mereciam viver. Ele iria matar a todas. Todas elas eram vadias, como a sua mãe era; por isso ele degolou sua mãe e ele não ia parar apenas nela.

A prostituta ao seu lado corria sua mão direita pelo seu corpo, ele deixou que ela percorre sua mão sórdida.

Quando chegaram ao beco vazio, ela disse depravadamente:

 — Tire as roupas, querido.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, ele cortou sua garganta.

 — Morra puta imunda, morra! — Gritou com fúria.

 — Denver se acalma, por favor.

 — Vou matar a todas. — Denver continua gritando.

A Dra. O’Connor tenta acalmá-lo, porém ele está agitado demais, como se fosse outra pessoa.

 — Por favor, Denver. Se controle!

 — Putas imundas, vocês merecem morrer.

Por fim, a Dra. O’Connor joga um pouco de água gelada em sua cara; Denver se acalma.

Ele respira fundo, abrindo lentamente os olhos e encarando-a. A hipnoterapeuta abre um sorriso e diz:

 — Tudo bem, Denver. Já passou.

Denver continua encarando-a.

 — Está me escutando, Denver? — pergunta pausadamente a doutora.

Denver sorri maliciosamente. Levanta-se sem nada dizer e caminha para a escrivaninha. Ele encontra uma tesoura, vai até a porta e a tranca.

 — Morra, puta imunda. — Diz por fim.

A Dra. O’Connor grita, Denver se aproxima dela vagarosamente, apreciando o desespero da mulher.

 — Por favor, Denver. Pare com isso! — ela esbraveja.

Entretanto, antes que ela peça uma segunda vez, Denver rasga sua garganta com a tesoura.

Ele observa o sangue jorrar.

Ele não era mais Denver, ele era Jack, O estripador.

E estava vivo outra vez.

*Morador em Nova Andradina e autor de livros

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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