O pássaro na gaiola

*Felipe Pereira


O pássaro brincava com as grades, bicava uma coisa aqui, outra ali. O sol estava escaldante, mas o pássaro não se importava. Eu o admirei, ele estava preso, mesmo assim continuava a brincar, a cantar, a viver. Como pode esse pássaro estar imune a crueldade humana, estando ele trancafiado? Como consegue ele continuar com sua existência dentro de uma gaiola?

Será que esse pássaro reflete sobre seus atos? Será que ele pensa sobre o motivo de estar ali? O que ele fez para ser tratado como um criminoso? Foi esse pássaro o assassino de algum outro pássaro? Foi ele o ladrão do alimento de outro pássaro que com grande dificuldade conseguiu juntar comida para o inverno?

Essas perguntas atormentam minha alma, o que esse pobre pássaro fez para estar enjaulado? Qual foi o momento em que ele pôde ser livre pela última vez, se é que já foi algum dia. Há alguém que espera por ele, quando ele puder finalmente voar por aí?

Quanto mais penso na dura sina desse miserável pássaro, mais eu me entristeço. Quão triste é viver assim, entre grades, sem um amigo para aliviar-lhe a solidão. Quão terrível é cantar para si mesmo, sem a plateia a lhe aplaudir. Quão árdua é a vida de quem não tem para onde ir, mesmo com a liberdade em suas mãos. Talvez o pobre pássaro prefira viver em sua prisão, pois ela é o lar que ele conhece. Após tanto tempo naquela gaiola, talvez ele não saiba mais para onde voar. Será que se ele fosse solto se recusaria a partir?

Enquanto observo o pássaro e me perco em reflexões vagas, ouço a voz do guarda direcionada a mim:

 — Ei, hora de comer.

O guarda da prisão me entrega uma bandeja com meu almoço. Sento na minha desconfortável cama. O guarda entrega bandejas semelhantes aos outros presos. Todos eles se sentam em silêncio para saborear suas refeições.

Após terminar o meu almoço, olho para o pequeno quadrado gradeado que eu chamo de janela. O pequeno pássaro não está mais lá, voou para algum lugar onde eu não poderei segui-lo.

*Formado em psicanálise pelo Instituo Brasileiro de Psicanálise Clínica, atua como psicoterapeuta e é pós-graduado em Psicologia Organizacional

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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