Epílogo

*Felipe Pereira


Primeiro veio o clarão, em seguida suas vistas ficaram tur­vas. As únicas coisas que conseguia distinguir eram os pontinhos brilhantes no céu, assim ela pensava. Sua vida pas­sou diante de seus olhos, cada momento gravado naqueles pon­tos brilhantes ao qual denominamos estrelas. Sentiu uma imensa dor na cabeça, algo pegajoso escorreu em seu rosto. Sangue. Recordou cada momento bom, e ruim também. Da sua infância modesta à ju­ventude rebelde. Cada página de sua história sendo contada naquele momento fugaz e derradeiro. Seus temores e arrepen­dimentos, cada escolha errada, cada caminho não trilhado, tudo se compactava nos seus últimos suspiros; o desfecho de uma existência repleta de altos e baixos batia à porta, logo os anjos a envolveriam no eterno adeus, no sono do qual nenhum homem ou mulher fora capaz de despertar.

 — Tudo vai ficar bem — ela ouviu alguém falando, talvez estivesse ouvindo as vozes do além.

Antes que o sobrenatural a levasse, teve tempo para mais um pensamento; sua doce filhinha, pobre criança, ficaria a es­perar pela mãe que não retornaria para o seio familiar, nem para os afazeres domésticos. Vivera de maneira desleixada, não deu o amor que sua meiga menininha merecia, e de todos os seus suplícios, esse era o que mais a dilacerava. Murmurou um débil “Eu te amo”, e se entregou à inexistência. As cortinas se fecharam, a luz da vitalidade se apagou. Escuridão.

*Estudante de contabilidade e morador de Nova Andradina

 

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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