Beija-Flor: Resgate da alma africana marcou o desfile


A escola de Nilópolis, na Baixada Fluminense, resgatou neste carnaval a exaltação da cultura e a alma africana, tema que já deu à azul e branca vários campeonatos. Terceira escola a entrar na Sapucaí neste 2º dia do Grupo Especial do Rio, a Beija-Flor defendeu o enredo: "Um Griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade".

Vencedora de 12 títulos no carnaval carioca, a Beija-Flor optou mais uma vez pelo luxo e tradição, sem recorrer a grandes inovações ou recursos tecnológicos, apostando na perfeição técnica e na empolgação dos seus integrantes apaixonados para esquecer o 7º lugar do ano passado e voltar a sonhar com as primeiras colocações.

Embalado pela voz única e marcante de Neguinho da Beija-Flor, que neste ano completa 40 anos de escola, o samba-enredo foi ponto alto e ajudou a manter a empolgação dos 3.700 componentes, que vieram distribuidos em 42 alas, 7 carros e 1 tripé.

Homenagem polêmica
Antes de entrar na Avenida, a Beija-Flor se viu em meio à uma polêmica, em razão do patrocínio recebido do país africano homenageado, que é uma ditadura comandada há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo e tem como base da economia a exploração do petróleo.

O presidente da Beija-Flor, Farid Abraão, negou que o governo da Guiné Equatorial tenha investido R$ 10 milhões no carnaval da escola, mas admitiu ter recebido contribuição do país, sem, no entanto, informar o valor.
"A gente pegou um enredo para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia. Nossa questão aqui é carnaval. O regime não nos compete. Cuba era odiado pelo mundo democrático e hoje está sendo abraçado", disse Farid, em entrevista ao "G1".

Desfile afro colorido
Polêmica à parte, o desfile da Beija-Flor deixou a política de lado e focou nas belezas e na cultura do país, apresentando um desfile poderoso, de alegorias e fantasias impactantes e rebuscadas, com uma profusão de máscaras, carrancas, búzios, plumas, palha e sisal.

A comissão de frente veio sem elementos cenográficos. Munidos de lanças e escudos, os bailarinos fantasiados de guerreiros formavam uma árvore na avenida. Em formato de máscaras, os escudos causaram impacto ao trazer movimentos de expressões faciais, comandados por controle remoto.

À frente do abre-alas, um tripé trouxe uma escultura da imagem do diretor de carnaval na figura de um griô, velho sábio que conta as histórias antigas aos mais jovens.

Para retratar a Guiné Equatorial, a escola abriu mão de suas cores: azul e branco, que marcaram presença apenas nos detalhes. No início, o predomínio foi do verde das florestas e da ceiba, conhecida como a "árvore da vida", um dos símbolos da África Ocidental.

Na sequência, o sambódromo foi tomado por uma explosão de cores, rretratando os ritos, costumes e as roupas usadas pelos habitantes do pequeno país africano ainda hoje.

As investidas dos explodores europeus também foram lembradas, assim como o tráfico de escravos. Um carro com cacau, diamante e petroleo exaltou as riquezas do país.

Encerrando o desfile, a mistura dos povos e a celebração da formação da nação brasileira e o enlace entre o Brasil e a Guiné Equatorial.

Claudinho e Selmynha completam 20 anos de Beija-Flor
Claudinho e Selmynha, casal de mestre-sala e porta-bandeira símbolo da escola, comemoraram 20 anos de Beija-Flor.

A rainha Raíssa Oliveira veio mais uma vez absoluta à frente dos 270 ritmistas da bateria dos mestres Plínio e Rodney. Cláudia Raia, que desfila há anos pela Beija-Flor, veio com uma fantasia de "Deusa Soberana".

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-diretor geral da TV Globo, homenageado no último carnaval da escola, também voltou a desfilar.

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