A casa limpa de minha mãe

*Rodrigo Alves de Carvalho


Já faz um bom tempo que minha mãe não é mais uma mocinha. Mesmo assim, durante mais de quarenta anos, foi ela que sempre fez tudo em casa: cozinhou, lavou, passou roupa e tomou conta da limpeza. Mulher forte e determinada, nunca deixou poeiras sobre móveis ou o quintal bagunçado.

Entretanto, a idade chega para todos, e não seria diferente para minha mãe. Os ossos vão ficando mais fracos, dores aparecem pelo corpo e a labirintite pode atacar a qualquer momento.

Pensando nisso, eu e meus irmãos decidimos contratar uma faxineira para dar uma “geral” na casa uma vez por semana, dessa forma, nos outros dias era só manter limpinho, mas sem muito esforço por parte de minha mãe.

Foi aí que os problemas começaram.
— Nunca precisei de faxineira. Para que gastar dinheiro com uma agora?
Minha mãe não queria se dar por derrotada.
— E outra, a casa não está nem tão suja assim para contratar faxineira!

Por um lado, minha mãe queria deixar claro que ainda estava forte e atuante, e não seria o diagnóstico de artrite e os bicos de papagaio que a iriam fazer desleixar dos cuidados com a limpeza da casa.

Por outro lado, quando as dores atacavam, ela mal podia se levantar de uma cadeira normalmente, sem fazer cara feia devido ao desconforto nas costas.

Estava decidido. Na próxima sexta-feira, uma faxineira que já trabalhava na casa de meu primo e era de sua confiança iria realizar uma boa limpeza nos vidros das janelas, no quintal, nos banheiros, além de dar um trato no fogão, na geladeira e uma geral em toda casa, onde fosse preciso deixar um “brinco”.

Na quinta-feira (um dia antes da chegada da faxineira), minha mãe acordou as cinco horas da manhã e com uma flanela nas mãos passou a limpar os móveis da sala e dos quartos.

Quando acordei, ela já havia lavado os dois banheiros e estava começando a jogar água no quintal.

Tentei repreende-la, mas ela estava irredutível.
— Tudo bem a faxineira vir limpar a casa toda sexta-feira, mas, não quero que ela encontre a casa toda suja!
— Mas mãe, ela vai vir justamente para limpar o que estiver precisando de limpeza.
— Não quero saber. Vai que depois ela saia espalhando para todo mundo que a minha casa é desleixada e vão falar que eu não cuido direito!

Agora, toda sexta-feira, a faxineira vem trabalhar em casa, entretanto, ela encontra a casa sempre bem cuidada e espalha para todo mundo que é a casa mais limpinha que ela já cuidou.
Para a alegria de minha mãe.

*Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura. Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” - coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localiza no sul de Minas Gerais.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova.

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