Brincar é investimento no futuro e fator de proteção para corpo e mente

Estudos mostram que limitar o tempo de telas e garantir espaços para brincadeiras fortalecem a saúde física, mental e social das crianças, melhoram o desempenho escolar e ajudam a prevenir doenças ao longo da vida

Da Redação


Brincar é essencial para a infância, e não se trata apenas de diversão, mas de um mecanismo-chave de promoção do bem-estar físico, mental e social. Segundo publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças de até 5 anos não devem ultrapassar 60 minutos por dia em atividades passivas diante de telas como televisão, tablet ou celular; para menores de 1 ano, a orientação é de que não haja nenhuma exposição a telas passivas. 

 

As diretrizes da OMS ainda recomendam que crianças entre 1 e 4 anos passem no mínimo 180 minutos ao longo do dia em atividades físicas de qualquer intensidade, como caminhar, pular, dançar ou engatinhar. A ausência de movimento está associada a maiores riscos de obesidade, alterações de sono e prejuízo cognitivo, o que reforça a importância de reservar tempo diário para o brincar ativo.

 

Um estudo nacional intitulado O brincar de crianças e suas famílias como alternativa de cuidado em saúde mental aponta que entre 10% e 20% das crianças e dos adolescentes brasileiros apresentam algum transtorno mental diagnosticado, e que parte desses casos está ligada a ambientes com poucas oportunidades de brincar, socializar e expressar emoções. 

 

A brincadeira, portanto, é um fator de proteção, funcionando como um espaço de descarga emocional e de construção de vínculos. Ela oferece à criança a chance de experimentar papéis sociais, explorar diferentes situações e desenvolver competências que serão úteis ao longo da vida.

 

Brincar impulsiona criatividade, fortalece saúde mental e desenvolve corpo e mente

Brincar ativa múltiplas áreas do desenvolvimento infantil. Segundo publicação na revista Educação Pública, atividades lúdicas estimulam o pensamento criativo, a imaginação e a resolução de problemas, pois a criança inventa histórias, explora simulações e aprende a lidar com situações inéditas. 

 

Essa prática favorece não apenas a cognição, mas também a saúde mental, ajudando a reduzir comportamentos ansiosos, aumentando a autoestima e estimulando a curiosidade. Uma reportagem publicada pelo Nexo Jornal destacou que crianças com maior capacidade de brincar aos 3 anos apresentam menor risco de desenvolver transtornos de humor e ansiedade no futuro, evidenciando que o ato de brincar influencia, inclusive, a saúde psíquica em longo prazo.

 

Do ponto de vista físico, brincar livremente é uma das formas mais eficientes de desenvolver a coordenação motora. Atividades como correr, saltar, dançar e rolar pelo chão favorecem a motricidade grossa, enquanto jogos de encaixe, desenho e manipulação de objetos ajudam a aprimorar a motricidade fina, que será necessária para escrever, recortar e executar tarefas manuais. 

 

Para crianças de 1 a 4 anos, parte dos 180 minutos diários recomendados deve incluir atividades de intensidade moderada ou vigorosa, como correr ou brincar de pega-pega, por pelo menos 60 minutos. Essa ativação corporal, associada à interação social, ajuda a consolidar circuitos neurais relacionados ao equilíbrio, à atenção e à regulação emocional, construindo bases sólidas para a aprendizagem futura.

 

De acordo com o estudo O brincar como sustentáculo da saúde mental da criança, publicado no ResearchGate, o brincar coletivo ou em pequenos grupos cria ambientes seguros para que a criança expresse emoções, enfrente frustrações e desenvolva resiliência. 

 

Outro trabalho acadêmico, este da Universidade Federal do Ceará, reforça que a observação da brincadeira pode ser usada como instrumento de avaliação psicológica, pois revela aspectos emocionais e cognitivos importantes para a compreensão de cada fase do desenvolvimento.

 

Brincar é política de saúde que previne doenças e fortalece laços sociais

Limitar o tempo de telas e estimular brincadeiras é uma recomendação estratégica de saúde pública para prevenir sedentarismo, obesidade e dificuldades de comportamento. O Guia de Telas para Crianças e Adolescentes, divulgado pelo Governo Federal, orienta que crianças menores de 2 anos não sejam expostas a telas, que o tempo de exposição de crianças entre 2 e 5 anos seja limitado a uma hora por dia e que o uso seja sempre supervisionado. 

 

Nesse contexto, atividades simples e brinquedos tradicionais desempenham um papel fundamental. Opções como blocos de montar, bonecos, jogos de tabuleiro e bolas são ferramentas que ajudam a criança a explorar conceitos de lógica, estimular a coordenação motora e desenvolver habilidades de cooperação e comunicação. 

 

Eles funcionam como mediadores de experiências ricas, que permitem à criança criar, testar hipóteses, errar e tentar novamente, construindo autonomia. Quando pais e cuidadores participam dessas brincadeiras, o benefício é potencializado, já que a criança se sente mais segura e apoiada.

 

Os benefícios do brincar não se limitam aos ambientes familiares ou escolares. Em hospitais, por exemplo, a ludoterapia tem sido aplicada como recurso terapêutico. Segundo estudo recente publicado pela NewScience Publishers, sessões estruturadas de brincadeiras ajudam a reduzir ansiedade e níveis de cortisol em crianças internadas, melhorando o humor e favorecendo uma recuperação emocional mais rápida. 

 

Além dos benefícios já conhecidos, novas pesquisas vêm revelando impactos menos explorados do brincar. Um relatório da Fundação Oswaldo Cruz aponta que a presença de espaços comunitários para brincar, como praças e parques, aumenta a percepção de segurança das crianças e fortalece o senso de pertencimento ao bairro, o que está associado a menores índices de isolamento social e melhor desempenho escolar. 

 

A Universidade Federal de Santa Catarina identificou que crianças que participam de atividades multissensoriais, envolvendo cor, textura, som e movimento, desenvolvem mais rapidamente habilidades de percepção espacial e coordenação entre os sentidos. O Ministério da Educação, em relatório de 2022 sobre educação infantil, observou que creches que estruturam momentos de brincar livre e dirigido apresentam alunos com melhor autorregulação emocional e maior vocabulário ao final da pré-escola.

 

Outro ponto interessante é o impacto das brincadeiras intergeracionais. Pesquisas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro mostraram que crianças que interagem regularmente com adultos de diferentes idades – avós, tios e vizinhos – aprendem regras sociais mais cedo e demonstram empatia mais desenvolvida. 

 

Essa troca de experiências entre gerações enriquece o repertório emocional da criança e amplia sua visão de mundo. Também há evidências de que municípios que investem em infraestrutura para brincar, como parques bem equipados e ruas seguras, registram queda nos índices de obesidade infantil e melhora na qualidade do sono das crianças ao longo de alguns anos.

 

Todos esses dados reforçam que o brincar é um direito e uma necessidade, e que sua ausência pode comprometer o desenvolvimento integral. Investir em brinquedos, tempo e espaço para brincar é uma medida de promoção de saúde tão importante quanto alimentação equilibrada ou vacinação. 

 

Como aponta publicação da revista Nova Escola, brincar dá à criança “mais energia criativa, atitudes cooperativas e capacidade de regulação emocional que perduram na vida adulta”. Garantir esse direito é investir em uma geração futura mais saudável, confiante e preparada para os desafios sociais, cognitivos e emocionais que a vida irá apresentar.

Cobertura do Jornal da Nova

Quer ficar por dentro das principais notícias de Nova Andradina, região do Brasil e do mundo? Siga o Jornal da Nova nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, Threads e no YouTube. Acompanhe!


Comentários