Sexualidade precoce: o perigo bate na nossa porta

*Dr. Nilton Octaviano


A sexualidade precoce adquiriu dimensões exacerbadas nos últimos anos. Com ajuda da proliferação da banalidade midiática somada às músicas de forte apelo sexual as crianças experimentam mais cedo à naturalidade do que deveria ocorrer na adolescência. O retrato da erotização antecipada comum nos dias atuais contrasta com culturas de tempos passados.

Mesmo presente na literatura científica, essa prática precoce tão coibida pelos adultos muitas vezes é estimulada pelos mesmos. No século XIX, o psicanalista Sigmund Freud chocou a sociedade ao afirmar a existência da sexualidade infantil desde o nascimento. Antes se relacionava essa iniciação apenas com a puberdade. Hoje, segundo análise de psicólogos, saímos de um processo de repressão da sexualidade para a banalização da mesma.

Ao longo dos séculos, claras mudanças modificaram o conceito de infância. No século XVIII não se falava nessa fase da vida. A criança veio de um momento em que ela era esquecida, negligenciada, onde era criada no meio de adultos. Depois, ela começou a se constituir e veio acompanhada de preocupações.

A sexualidade, que era marcada pela puberdade, já veio ditada na infância. As crianças desenvolvem a sexualidade muito precoce, mas no sentido de curiosidade do próprio corpo, de estimulação corpórea. A antecipação da erotização observada hoje é proveniente de outros fatores. Passamos a ter o achatamento da infância e o alargamento da adolescência, com as pessoas evitando a velhice. Temos, agora, a ‘adultoscência’, onde os adultos apresentam comportamento de adolescentes com aquela rebeldia e o ideal de liberdade. Um dos grandes vilões que antecipam tal erotização é a banalização dos meios de comunicação.

O que a criança tinha como feio, a exposição da sexualidade, você vê materializado dentro da mídia. A criança vive fantasias e a mídia faz com que isso saia do imaginário e se concretize.

Ao contrário do que se observa nas ruas através da maior exposição à sexualidade por parte de crianças que moram em comunidades, este problema acomete todos os níveis sociais.

Nas classes mais pobres, em casas com geralmente um cômodo você pode ter a sexualidade de forma mais explícita do que na classe média alta, mas hoje as duas classes vivem a erotização da cultura através da forte exposição na mídia.

Atualmente, os brinquedos, as músicas, são mais erotizados. Um exemplo são as crianças que gostam de ‘Lady Gaga’, assistem aos clipes, e muitos deles têm uma erotização muito grande. Outros são crianças que têm o acesso sem limites à internet e conhecem sites pornográficos e outros conteúdos.

As consequências para essa antecipação são difíceis. Uma vida sexual sadia deve ser iniciada apenas quando o corpo e o psicológico estão desenvolvidos. Jovens que iniciam muito cedo tendem a banalização da sexualidade, a prostituição, as doenças sexualmente transmissíveis. Aparecem também as angústias e a depressão. É uma questão de saúde pública.

Os jovens falam abertamente sobre erotização em rodas de amigos, nas escolas, ou nos locais onde moram, eles já têm contato ou noção do que se trata o tema. Em muitas vezes não cabe mais a eles incumbir à sexualidade de preconceitos ou tabus.

Os mais novos falam abertamente sobre o sexo, as primeiras experiências, e reconhecem até nos outros a antecipação da erotização.

Uma contrapartida ao comportamento dos jovens é a maior aceitação da escolha sexual das pessoas.

O que vem sendo observado é uma maior informação. As crianças já falam com menos pudor de assuntos como a diversidade sexual.

Oriente seus filhos, converse abertamente sobre o tema, sem medo, sem preconceito, sem julgamentos.

Busque ajuda profissional se necessário.

Talvez possamos assim evitar traumas, desilusões e até doenças muito graves.

*Médico e diretor do Hospital Regional
 

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